quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

(Ins)pirações

Há menos de dois meses, publiquei o Contos e microcontos em Vitória-ES. Desde então, muita gente comentou - ouvi coisas incríveis que ficarão guardadas na memória. Descobri, ainda, que um ou outro conto foi capaz de inspirar outros escritores, bons escritores. Um exemplo é o Opsipacsur Tony Zax, que me surpreendeu produzindo o microconto abaixo. Segundo ele, a narrativa que segue foi inspirada no conto "Um conto ou um real?" contido no meu livro. À época de fim de ano, a inspiração invadiu:

Uma conta, três, dois, um

Tudo era branco com listras pretas e não passavam de planos e resoluções de um ano novo prestes a estrear, 10, 09, 08. Então eis que surge ela de vestido branco rendado girando a saia numa roda de samba ou umbanda, seu vestido rodado novo em folha, folha que já não é mais branco com listras pretas e sim com letras tortas em cima de linhas retas e desorganizadas. Sobrenome Borges, seu nome composto, pomposo, Ana Hermínia, Maria Eduarda ou Aparecida, pode escolher. Mulher imaginária, capa de revista, feita de papel, vive nas nuvens, mulher dos sonhos, cabelos lavados, sinta o cheiro.  Pele branca, de dia, a noite parda. Voa passarinho a porta da gaiola não está fechada, nunca se fechou, mesmo que fechasse, não havia gaiola que a prendesse, era fumaça, voe duas, dez, vinte vezes. 07, 06, 05. Volta, volta agora, volte uma, dou-lhe duas, dou lhe três, 04, 03. Vendido in media res, como sonho que nunca começa pelo começo. Fica aqui, já já viro a página, abra os olhos, aonde está a moça linda do vestido rendado? Foi habitar outros sonhos, inspirar novas páginas em branco. Voa anjo, voa borboleta, voa efeméride, voe pelo céu azul, pelo espaço infinito, me leve até o ponto mais distante do universo, já voltei.  02, 01. Feliz ano novo.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Eu me querelo

Descobri que o verbo “querelar”, quando é pronominal, ganha o sentido de “queixar-se”. Treine comigo a conjugação: eu me querelo, tu te querelas, ele se querela... A última vez que me percebi querelando comigo mesma, cheia de rabugices, estava em frente de um banco em construção. Antes que você se pergunte e daí mais um banco, o problema não é o banco, mas o local onde ele se finca: ali funcionava a Flash Vídeo, a maior locadora de Vila Velha. Há pouco mais de dois meses, lamentei – e me querelei – quando vi o local abandonado, em ruínas. Depois, a chegada de catadores de papel, provavelmente buscando um lugar para dormir, para chamar de seu. E, então, eis que agora existe lá uma agência bancária, mais uma unidade representativa do progresso, da vida urbana em desenvolvimento. E para onde foram os catadores? Provavelmente, foram escorraçados dali, para lugar nenhum. E o que dizer da locadora? Não quero imaginar também aqueles tempos das fitas cassetes, que não eram nada muito flash, mas lembrar de que os DVDs também tiveram uma boa permanência no comércio de locação. E na minha vida: escolher o filme ou o jogo de videogame era controle contra a ansiedade, compartilhar os gostos e as opiniões, decidir por um ou por outro, e entregar no tempo errado porque o prazo da locadora sempre foi muito pequeno para quem gosta de filmes e de jogos. Portanto, só tenho a comemorar com a modernização dos downloads via internet. Agora eu fico com os filmes para sempre, embora ainda seja fã mesmo do DVD, com os extras e créditos, encapados e na minha estante. Sim, tudo agora é muito mais flash, não há espaço para locadoras, nem mesmo as tradicionais. Seguindo uma lógica da qual me querelarei sempre, num mundo digital há espaço para mais bancos e menos catadores de papel. E assim caminha a humanidade. 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Vamos trocar livros?


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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Por que 2013 fica? #3

Achei que fecharia 2013 já com o título de mestre em Letras. Era esse o plano. Mas muita água passa debaixo da ponte, como dizem. Nem foi tão ruim. Minhas leituras se estenderam, as descobertas também. Impossível não perceber em mim certo amadurecimento, acadêmico e pessoal. Hoje, com a dissertação terminada, à espera de fevereiro, posso dizer que a pesquisa me fez descobrir ainda mais a potencialidade de um escritor quase desconhecido. Fernando Tatagiba foi um mestre da literatura nacional. Eu diria, um pensador. Teve a capacidade de escrever em linhas múltiplas com a finalidade de alcançar um discurso do marginalizado, da escória, dos calados e esquecidos. Tamanha sensibilidade me arrebatou diversas vezes, a dissertação parecia entrar no vácuo, e de lá saía milagrosamente. São cem páginas de gotículas de suor pingadas dia-a-dia, mas que, ao final deste ano, dão um orgulho danado. 2014, então, já começa bem: com uma defesa de dissertação. Voilà