Descobri que o verbo “querelar”,
quando é pronominal, ganha o sentido de “queixar-se”. Treine comigo a
conjugação: eu me querelo, tu te querelas, ele se querela... A última vez que
me percebi querelando comigo mesma, cheia de rabugices, estava em frente de um
banco em construção. Antes que você se pergunte e daí mais um banco, o problema
não é o banco, mas o local onde ele se finca: ali funcionava a Flash Vídeo, a maior locadora de Vila
Velha. Há pouco mais de dois meses, lamentei – e me querelei – quando vi o
local abandonado, em ruínas. Depois, a chegada de catadores de papel,
provavelmente buscando um lugar para dormir, para chamar de seu. E, então, eis
que agora existe lá uma agência bancária, mais uma unidade representativa do
progresso, da vida urbana em desenvolvimento. E para onde foram os catadores? Provavelmente,
foram escorraçados dali, para lugar nenhum. E o que dizer da locadora? Não
quero imaginar também aqueles tempos das fitas cassetes, que não eram nada
muito flash, mas lembrar de que os DVDs também tiveram uma boa permanência
no comércio de locação. E na minha vida: escolher o filme ou o jogo de videogame
era controle contra a ansiedade, compartilhar os gostos e as opiniões, decidir
por um ou por outro, e entregar no tempo errado porque o prazo da locadora sempre foi muito pequeno
para quem gosta de filmes e de jogos. Portanto, só tenho a comemorar com a
modernização dos downloads via internet. Agora eu fico com os filmes para sempre, embora ainda seja fã mesmo do DVD, com os extras e créditos, encapados e na minha estante. Sim, tudo agora é muito mais flash, não há espaço para locadoras, nem
mesmo as tradicionais. Seguindo uma lógica da qual me querelarei sempre, num mundo
digital há espaço para mais bancos e menos catadores de papel. E assim caminha
a humanidade.
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