segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

meus sonhos inteiros


Que dia!
Que adia meus medos
Mas não morre
E da morte os arremedos
Meus sonhos inteiros
São eles
Medonhos e certeiros. 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

#viagem Munique

Munique foi minha grande descoberta. A cidade alemã tem um coração enorme e, em três dias, conheci franceses, ingleses, colombianos, alemães e, claro, brasileiros. Além disso, a cerveja e a culinária dão um toque especial ao local. Desta vez, deixo aqui um vídeo que fiz na rua. Ele mostra um grupo de meninas tocando violoncelos, se a minha ignorância musical permite dizer. Vou publicar mais outros vídeos, sempre neste estilo simples, já que minha câmera era de péssima qualidade, e também porque a ideia é bem simples: ao final de todos eles, tem um toque literário:



quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

sonhos, números, sorrisos

[...] Sonhar demanda tempo, açúcar e espírito. Mas chega uma hora em que tudo se transforma em lágrima, a hora de encontrar todos juntos para dissipar as fantasias. O rapaz precisa esquecer sua invencibilidade, deixar de lado o que pensa sobre imortais. Seus sonhos costumam ter lugares amplos demais, com redes e cadeias embaralhadas e cheias de coisas só dele. Está tudo em Ângelo. Até que chega o retorno, o dia seguinte, quando tudo volta ao normal e os devaneios se multiplicam. Voa-se em qualquer nuvem, sonha-se em qualquer estação. Algumas amizades reaparecem para tomar essa mesma direção e para darem fim a qualquer ruído perturbador. Para Ângelo veio o ambíguo, inexplicável, incompleto, inconstante. Veio à cabeça a estranha arte de realizar eventos inconscientes, em meio ao caos do seu núcleo psíquico. Quando, agora, chegou além e, finalmente, abraçou o sonho com alma e coração, muitos também comemoraram. Realizar um sonho é alcançar uma estrela, encontrar a luz no fim do túnel. É encontrar a verdadeira felicidade ao lado de quem merece estar lá. Se Ângelo sonha, é porque ele é capaz de conquistar um mundo impossível. Ele é feito para isso, para os gigantescos projetos que, se no começo são apenas números, areia e insônia, no final podem ser fotos, concreto e sorrisos. [...]

Trecho de um conto que está em meu livro Contos e microcontos, ainda a ser lançado.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

samba-poema I

Em tempos de carnaval, é bom sambar com a linguagem. O primeiro poema dessa série é invenção antiga, mas ainda vale:


Samba-poema I

Chegou devagar, essa moça, a dançar
pedindo um aperitivo qualquer lá no bar
e na barra da saia rodada, essa mulher
de fiel namorada, na levada, deu pontapé
Desce a ladeira, a danada, colar no pescoço
sorriso de canto, pulseira no pulso, cantada
samba de beira, brinco na orelha, beirada
E na vida ela vai, tanto quanto volta...
E na vida ela vai, tanto quanto volta...
A moça caminha e desfila no passo da esquina,
mascando chiclete de tangerina, sem hora pra chegar
salto alto, meia fina, então é brasileira
a curva de um lado, de outro, para um olhar
Agora, sobe esse morro num único decote
a mesma mulher faz tudo o que pode
retoca o batom, ouve o pandeiro e, se bobear, morde.
E na vida ela vai, tanto quanto volta...
E na vida ela vai, tanto quanto volta...

(autoria minha, com todos os direitos reservados)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

momento único daquela viagem

Entre muitas, uma memória:

Gosto de igrejas seculares. Há muito de histórico dentro delas e, exceto pelas que se tornam um verdadeiro ponto turístico, com barraquinhas de souvenirs dentro, as igrejas transmitem alguma paz, uma tranquilidade da qual eu realmente gosto. Mas eu posso encontrar tranquilidade em vários lugares, por exemplo, em parques. Além da história que esse local guarda, a tradição das pinturas e dos vitrais, os rituais – há também algo de misterioso lá dentro. E a luz baixa de algumas, que deixam as velas mais presentes, as sombras à mostra, as imagens sacras e santas tão enigmáticas... É um lugar que vale a pena visitar não só para conversar consigo mesmo, independente de quaisquer crenças, mas também para relaxar a mente, e respirar fundo. Quando visitei a Notre-Dame de Grenoble pela primeira vez, fui com a intenção de tirar fotos. Depois, voltei outras vezes para pensar na vida, para assistir a uma missa e também para ouvir um grupo de alemãs cantarem em um coral belíssimo. A propósito desse dia, conversei bastante com uma freira que havia conhecido poucos dias antes. Ela vinha de um país africano e participava de algum tipo de missão religiosa: conscientizar os jovens daquela cidade universitária, a fim de que eles pudessem pensar a respeito da importância de frequentar uma igreja. Ela percebeu, sem qualquer sinal de minha parte, que eu estava ali muito mais para aproveitar a minha viagem, e isso não impediu que nós conversássemos por mais de uma hora e ela me apresentasse para todos que chegavam para beijar-lhe a mão. Uma dessas pessoas era um homem, uma espécie de zelador da igreja: um italiano que falava francês e me desafiou várias vezes com o idioma, porque eu estava quase perplexa, e calada, por não saber o que dizer naquelas conversas tão inesperadas. Na verdade, pensava: “Quando eu iria imaginar que conheceria pessoas tão formidáveis e surpreendentes?”. Ensaiei dar uma volta na cidade e retornar mais tarde para o coral. O homem, que me apresentou toda a igreja, contou histórias e experiências, perguntou-me se eu havia conhecido a capela. [...] Achei engraçado: ele se sentia um pouco guardião daquele lugar histórico, quase um vigilante do sossego, mas também um zelador que conservava ou reafirmava os segredos templários. “Você pode ficar um pouco. Daqui a pouco eu volto”, disse. Suspirei. Estava só, acompanhada de milhares de anos de história, e vidas que por lá passaram, quem passou?, quantas pessoas vieram até aqui, sentaram-se nesses bancos, famílias inteiras chegavam até a porta de charretes, e com aquelas indumentárias, por quantos invernos passaram?, quantos casamentos, batismos, missas do galo, talvez? Fotografo um pouco, ando, olho para o teto – os tetos das igrejas são igualmente especiais para mim. É difícil pensar daquela forma, rodeada de vozes e ecos. Eu não precisava dizer nada. O altar, com todos aqueles signos, me deixava arrebatada. No chão, uma grade protegia alguma abertura. Como não considerar tudo isso tão emblemático... O guardião voltou e perguntou: “E então? O que achou?”. Eu tentei explicar para ele o que sentia, mas, claro, sem sucesso. Ele disse que eu poderia ficar o quanto quisesse. “Bom, se é assim, quero ficar mais um pouco”. E fiquei, por volta de quarenta minutos ali, sentada comigo mesma.







Fotos tiradas por mim. Memórias guardadas com imagens e letras.

domingo, 6 de janeiro de 2013

mergulho nas ondas da manhã


Acordar com o calor da manhã, tal como Clarice Lispector fazia, para sentir o amanhecer de pertinho, e ouvir as ondas quebrarem umas nas outras, nervosas como as minhas mãos: só assim para entender melhor o sol. Vieram planos, mil deles, vontades e verdades até. Tão difícil ser ébrio que não senti nada mais além. Isso já era muito e manteve-se com qualidade para o fim do dia. Como fim, se o dia só está começando? Não. Tudo acaba quando o papel começa a ser preenchido. Tudo é fim. O papel nunca está branco, mas finge-se que sim. Impossível fingir tão bem, o papel está antes escrito de memórias, e preciso aprender com o sol para entrar nos seus limites. Como saber dar vida ao texto sem mergulhar nessas mãos nervosas? Como dizer que o dia é o mesmo depois de acordar uma manhã de versos e de frases? Como aceitar que a vida continua, o dia está lindo lá fora e hoje é domingo? Acabou. Não posso compactuar com tamanha insensibilidade. Deixe o texto, deixe que ele respire esse ar matutino, mas não me venha... o começo também é o fim e, caso isso se inverta, preciso estar acordada para entender melhor a lua.