Entre muitas, uma memória:
Gosto
de igrejas seculares. Há muito de histórico dentro delas e, exceto pelas que se
tornam um verdadeiro ponto turístico, com barraquinhas de souvenirs dentro, as igrejas transmitem alguma paz, uma tranquilidade
da qual eu realmente gosto. Mas eu posso encontrar tranquilidade em vários
lugares, por exemplo, em parques. Além da história que esse local guarda, a
tradição das pinturas e dos vitrais, os rituais – há também algo de misterioso
lá dentro. E a luz baixa de algumas, que deixam as velas mais presentes, as
sombras à mostra, as imagens sacras e santas tão enigmáticas... É um lugar que
vale a pena visitar não só para conversar consigo mesmo, independente de
quaisquer crenças, mas também para relaxar a mente, e respirar fundo. Quando
visitei a Notre-Dame de Grenoble pela primeira vez, fui com a intenção de tirar
fotos. Depois, voltei outras vezes para pensar na vida, para assistir a uma
missa e também para ouvir um grupo de alemãs cantarem em um coral belíssimo. A
propósito desse dia, conversei bastante com uma freira que havia conhecido poucos
dias antes. Ela vinha de um país africano e participava de algum tipo de missão
religiosa: conscientizar os jovens daquela cidade universitária, a fim de que
eles pudessem pensar a respeito da importância de frequentar uma igreja. Ela
percebeu, sem qualquer sinal de minha parte, que eu estava ali muito mais para
aproveitar a minha viagem, e isso não impediu que nós conversássemos por mais
de uma hora e ela me apresentasse para todos que chegavam para beijar-lhe a
mão. Uma dessas pessoas era um homem, uma espécie de zelador da igreja: um
italiano que falava francês e me desafiou várias vezes com o idioma, porque eu
estava quase perplexa, e calada, por não saber o que dizer naquelas conversas
tão inesperadas. Na verdade, pensava: “Quando eu iria imaginar que conheceria
pessoas tão formidáveis e surpreendentes?”. Ensaiei dar uma volta na cidade e
retornar mais tarde para o coral. O homem, que me apresentou toda a igreja, contou
histórias e experiências, perguntou-me se eu havia conhecido a capela. [...] Achei engraçado: ele se sentia um
pouco guardião daquele lugar histórico, quase um vigilante do sossego, mas
também um zelador que conservava ou reafirmava os segredos templários. “Você
pode ficar um pouco. Daqui a pouco eu volto”, disse. Suspirei. Estava só,
acompanhada de milhares de anos de história, e vidas que por lá passaram, quem
passou?, quantas pessoas vieram até aqui, sentaram-se nesses bancos, famílias
inteiras chegavam até a porta de charretes, e com aquelas indumentárias, por
quantos invernos passaram?, quantos casamentos, batismos, missas do galo,
talvez? Fotografo um pouco, ando, olho para o teto – os tetos das igrejas são
igualmente especiais para mim. É difícil pensar daquela forma, rodeada de vozes
e ecos. Eu não precisava dizer nada. O altar, com todos aqueles signos, me
deixava arrebatada. No chão, uma grade protegia alguma abertura. Como não
considerar tudo isso tão emblemático... O guardião voltou e perguntou: “E
então? O que achou?”. Eu tentei explicar para ele o que sentia, mas, claro, sem
sucesso. Ele disse que eu poderia ficar o quanto quisesse. “Bom, se é assim,
quero ficar mais um pouco”. E fiquei, por volta de quarenta minutos ali,
sentada comigo mesma.
Fotos tiradas por mim. Memórias guardadas com imagens e letras.
Adoro observar os tetos dos lugares que visito. OS das capelas, igrejas e conventos, sem dúvida, são os melhores.
ResponderExcluirQue bacana sua lembrança. Fez com que eu viajasse um pouquinho até Grenoble.