segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Por que 2013 fica? #3

Achei que fecharia 2013 já com o título de mestre em Letras. Era esse o plano. Mas muita água passa debaixo da ponte, como dizem. Nem foi tão ruim. Minhas leituras se estenderam, as descobertas também. Impossível não perceber em mim certo amadurecimento, acadêmico e pessoal. Hoje, com a dissertação terminada, à espera de fevereiro, posso dizer que a pesquisa me fez descobrir ainda mais a potencialidade de um escritor quase desconhecido. Fernando Tatagiba foi um mestre da literatura nacional. Eu diria, um pensador. Teve a capacidade de escrever em linhas múltiplas com a finalidade de alcançar um discurso do marginalizado, da escória, dos calados e esquecidos. Tamanha sensibilidade me arrebatou diversas vezes, a dissertação parecia entrar no vácuo, e de lá saía milagrosamente. São cem páginas de gotículas de suor pingadas dia-a-dia, mas que, ao final deste ano, dão um orgulho danado. 2014, então, já começa bem: com uma defesa de dissertação. Voilà

Por que 2013 fica? #2

Algumas quartas-feiras deste ano foram preenchidas com viagens ao Rio de Janeiro, minha cidade preferida após Vitória. O Rio é contagiante, tem beleza e vida debaixo de sol e de chuva. Os cariocas se vangloriam e, sempre que desço por lá, pareço aplaudir com os olhos a cidade maravilhosa que eles têm. Minhas aulas na UERJ, que começavam por volta das duas da tarde, passaram a ser apenas um detalhe de uma simples quarta-feira. Isso porque foram muitas as vezes que chegava à cidade pela manhã e caminhava todo o centro, sentava num café com livros em volta, ou ia a cantos os quais ainda não conhecia, como Ipanema e Copacabana. Como não sou amante de praia, isso jamais foi prioridade. Eram, sim, os cafés, os livros, os centros culturais e os bares. Negar uma água de coco em Ipanema, uma cerveja em Copa, quem há de? Quase sempre, voltava no mesmo dia para casa, curtindo a ponte aérea sem dó. Os voos da volta eram sempre tão intensos, a bolsa e o corpo mais pesados, porque as aulas me enriqueciam a mente e a cidade amansava o coração. Os voos de quarta ficam, com certeza, junto com São Paulo. Eis a terceira melhor cidade do mundo, a qual conheci este ano. Como pude ficar tanto tempo sem desbravá-la? São Paulo é um universo, é imensa, enérgica, pulsante. A explosão cultural paulista ganhou minha simpatia sem muito esforço, de tal modo que, ainda lá estando, já fazia planos para voltar. 2013 fica, a lembrança. E puxa 2014 pela gola, os planos. 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Por que 2013 fica? #1

Do inevitável saldo de final de ano, digo pelo menos três coisas que tornaram meu 2013 perfeito. Eu duvidei mesmo que o ano seria melhor do que o anterior, quando eu fiz minha primeira viagem à Europa e, sozinha, conheci e vivi tantas coisas inesquecíveis. Mas este foi um ano de acontecimentos inesperados, como me tornar diretora de uma escola de acompanhamento escolar. Hoje, agradeço por serem tão poucos alunos, na faixa de 30, dos 9 aos 16 anos. Nenhum conhecimento supera tão rapidamente aquela rotina: descobrir as dificuldades particulares, levar ensinos alternativos, conversar com professores, pensar atividades, apoiar, compreender, mudar, brigar, ajudar, chorar, entender, amar. Foram seis meses tendo sonhos malucos, ideias mirabolantes, para que cada aluno conseguisse se encontrar. Conseguisse perceber que ser diferente numa sala com 40 alunos é normal. Que não aprender tudo o tempo todo também é. Que nessa desordem de informações, imagens, opiniões, flashes, explosões e máquinas, estamos todos confusos. Todos confusos querendo nos encontrar, querendo encontrar razões em meio a tanta irracionalidade. Uma instituição como a escola não se veria livre desse fluxo enlouquecedor, por isso as escolas alternativas, onde o aluno se reconhece no meio da multidão. E eu, como educadora, me reconheço ainda mais, fazendo parte desses processos, dessa constante vontade de equilíbrio.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Contos e microcontos na internet

Agora você pode ler o Contos e microcontos no computador. É só clicar AQUI.


O livro já foi para o SKOOB. Cadastre-se lá e me conte o que achou! Boa leitura!





quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Com chuva e com afeto

Que férias e chuva não fazem uma boa combinação, disso sei há muito tempo, desde que precisei da rua para me divertir, estando nela ou usando-a para seguir viagem. Antes de viajar para Conceição da Barra ou para Itaipava – a escolha era sempre um ou outro canto praiano – passava alguns dias batalhando uma diversão com os colegas da rua, que era metade asfalto, metade terra e paralelepípedo. E, se os colegas eram da rua, era porque ali tudo se transformava em campo de futebol (ou de bolinha de gude), em sessão de cinema a céu aberto ou em show de música com nossos próprios talentos. Ou, ainda, em campeonatos de pipa.
Mas a natureza de vez em quando pede passagem, em sinal de apelo ou alerta, para não ser desfeita a sua graça. E, por isso, enxurradas são capazes de lavar até o mais imundo canto, esborrando água e mais água, em pleno período festeiro de férias e final de ano. Um aviso? O lado de fora encharcado, a rua era então improvisada do lado de dentro. Tudo era motivo para que o tempo não se escorresse como a chuva na janela.
Numa dessas, veio-me a ideia de soltar pipa dentro de casa. Porque se quer, então se faça. Uma pipa adaptada, é verdade, mas era a minha pipa uma sacola de plástico manipulada por um barbante. E o vento? Escutava-o quase derrubando as árvores com o auxílio da chuva e isso já era suficiente. Assim, tudo estava pronto: minha pipa era amparada pelo varal de roupas da mãe e eu me sentava no chão de piso vermelho da área de serviço. Ouvia a chuva formar cascata no telhado do quintal, o vento soprar a ponto de respingar gotas no rosto, como se estivesse lá fora, debaixo daquele filete engrossado de chuva.
Se nunca tomei banho de chuva? Vários, a perder o couro. Mas a sinfonia das águas escorrendo nas calçadas e nos telhados tem de ser ouvida, por vezes, na calma de chão, imaginando gigantes pisando na terra molhada, provocando estrondos no céu. Aproveitando que no tempo da infância não se reconhece que famílias são afetadas por tamanho desabamento chuvoso.
Pingo a pingo rasgaria a seda da pipa. Mas não a minha, que era de plástico. E, mesmo assim, ela voava longe, ainda que dividindo o espaço com roupas por secar. Naquele voo, eu fechava os olhos para ouvir ainda mais a pipa voando no céu ora cinzento, ora amarelado. O teto que era céu, o varal que era vento, o barbante que era rabiola, a sacola que era papagaio. A chuva que era inspiração.

domingo, 10 de novembro de 2013

é pau, é pedra... e o começo de tudo.

Foi assim: esperei quase 2 anos pra sair o livrinho. Então, na última terça (dia 05), num temporal daqueles, na Cidade Alta (Vitória-ES), o lançamento aconteceu. Aos trancos e barrancos, já posso mudar a descrição aqui do lado direito, onde estava "quase escritora de um livro de contos". Os continhos agora estão registrados e em várias prateleiras por aí. 



sábado, 26 de outubro de 2013

Literatura, câmera e... ação!

Foi no último dia 20, domingo de um sol afável, que aconteceu o encontro “Literatura ES: autores e palavras”, dentro da segunda edição da OFF (Mostra de Teatro em Grupo que se apresenta nos espaços públicos da Grande Vitória). O cenário: a Má Companhia, casa dos grupos teatrais Z e Repertório, localizada no Centro de Vitória. 

O evento reuniu grandes nomes da Literatura produzida no Estado. Saulo Ribeiro promoveu algo simples: cada autor deveria ler um trecho de sua obra. Em ótima companhia me senti quando lá estavam Fernando Achiamé, Waldo Motta, Anne Ventura, Herbert Farias, Caê Guimarães, Alessandro Darós, Wilson Coelho, Alexandre Moraes, Marília Carreiro Fernandes, Natasha Sivieiro, Marcos Tavares, Erly Vieira Jr., Orlando Lopes, Aline Dias, etc.

O primeiro a assumir, de pé, a fala, foi Alexandre Moraes que, ao som inesperado e inevitável dos sinos da Catedral, recitou um poema sobre a Ilha de Vitória. Enquanto isso, os olhos curiosos e dispostos acompanhavam a movimentação dos sons – versos, sinos, ventos, pássaros, palmas. Que suba o próximo, e outro, e mais um. A maioria deles sempre nervosa, algumas palavras e papéis tremidos. Mas todos pareciam reverenciar o projeto de Saulo que não para por aí. Havia uma câmera! Os movimentos foram filmados e virarão um belo vídeo: a excelente literatura, a literatura de movimento, estará em breve aí para ser assistida. E vista. E revista. Para por no repeat.

Naquela casona vermelha, a zona foi boa. Uma zona que cheirava respeito mútuo e compromisso. Afinal, nossas obras literárias não são mesmo sérias – literatura e seriedade se repelem – mas são obras, são legítimas. São nossas e de ninguém. O público mereceu tamanha qualidade e disposição. Os escritores mereceram o público interessado. Daí, os aplausos. Mesmo que os aplausos viessem de nós mesmos, foram de pé. Mas são os nossos pés que fazem a diferença: colocando-os em movimento, os pés e a literatura. Pois, como disse G.H. de Clarice, “a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos".

O clima interativo favoreceu, sem dúvida, para que o evento fosse despojado e rápido: ficamos com aquele famoso gosto de "quero mais". Põe no repeat, Saulo. 

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

a vida que passa (aliás, voa, sem asas)

Das coisas que mais me intrigam nessa minha imaturidade assumida está a verdadeira velocidade dos dias. Que horror tudo isso que presenciamos. Olhei agorinha o relógio e, ao olhar novamente, constato que duas horas se passaram. Isso é terror dos bons, daqueles que nos deixam de cabelo em pé. Pois quase me parece perda de tempo a caminhada que faço pela orla da praia, é muita perda de tempo olhar o sol se animar sobre as águas salgadas - e imagina só quanta perda de tempo seria se eu ainda gostasse daqueles mergulhos nessas mesmas águas, mergulhos sem nada, a comerem meus minutos sagrados. Minutos também salgados. Porque custam caro. Não estou nem um pouco afim de pagar por eles, mas, aí está o terror cortante, sou incapaz de mudar o curso desses ponteiros. Pois que, quando me recordo neste momento há um ano, fico a pensar no tempo daquele dia, sem quase horror algum (quase - porque o tempo, diziam, não para em hipótese alguma). E deve ser por isso que, às vezes, ficamos apavorados com esses horários sem fim: porque já provamos, algum dia, da quase ausência deles, quando não se precisa do relógio e, portanto, não há terror. 


sexta-feira, 5 de julho de 2013

a palavra de ordem é: protesto!

Cansei de pensar sobre o que escrever. Na verdade, estava cheia de questões e exclamações por causa de  um fato o qual presenciara. Mas acabei pensando em demasia antes de escrever. E me dei conta de que escrever é pouco. Por isso, compreendi o porquê de sempre escrever tão pouco, pois a escrita, por si só, é pouca. Tão pouca que não conseguiria transmitir com afinco aquele sentimento, nem descreveria o momento sutil, absoluto. Ao menos o dia fez todo sentido. Ou o contrário. E a vida é assim, não parece mesmo fazer-se sentir, embora dia a dia confirmamos sua razão. Razão não, emoção. Seja o que for. Aquelas oito crianças rodeando um amontoado de lixo no canto escuro da rua fez toda diferença. E o movimento ali era esse, o do estômago, o do desespero de matar uma única angústia chamada fome. Outros movimentos ao redor: um ônibus, sons de carros anunciando a noite de sexta-feira, a vizinhança alimentada, uma ponte ou outra interditada aos gritos, às ordens de protesto: o quê querem matar? Horas a fio de palavras - e os fios das palavras são tão quebradiços... - para uma movimentação aqui, outra ali. Mas os movimentos são muitos, as crianças, aquelas, também. Como escrever sobre tudo? Sinto muito, mundo. Sinto tanto e escrevo pouco.  E é por isso que não escrevo tudo. 

domingo, 23 de junho de 2013

Quadrilha na rua #VemPraRua

O momento é mesmo único para o Brasil e para seu povo. No entanto, basta ficar alguns minutos nas redes sociais para concluir que, realmente, há muito o que se esclarecer quanto aos últimos acontecimentos do país. Oportunistas sempre existiram e eles não iriam dormir justamente no dia em que o "Gigante" resolve acordar. Falta-nos maturidade. Talvez, poesia. Pensando nisso, coloco aqui minha paródia do poema de Drummond, chamado Quadrilha. Em tempos juninos, nada mais apropriado, e nada mais polissêmico:

João que chamava Teresa que gritava por Raimundo
que convencia Maria que pediu a Joaquim que chantageou Lili
que não votava em ninguém.
João escreveu em seu cartaz que não estava satisfeito
Teresa, que queria mudança
Raimundo apanhou da polícia, Maria disse não saber mas sabia,
Joaquim calou-se e Lili apoiou J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história, embora estivesse sempre lá
manobrando todos os passos.



domingo, 5 de maio de 2013

trecho do conto "o aprendiz"

[...]

O menino vê muito tudo aquilo, somente ele está de olhos abertos. Mas há também homens que tambozeiam a dança como guardiões de alguma coisa que, segundo os olhos do menino, não se sabe. Junto com os tantos cordões dourados de tantas mulheres negras e gordas e assustadoras estão os ticunduns ritmados da aliança de pedaços de pau com caixas de tinta vazias. O menino se prende ao som e às cores como quem dá uma vida: os homens também começam a resmungar coisas ritmadas, diminuem os intervalos, engrossam as vozes e batem com força os pedaços de pau nas caixas, chegam mais perto do círculo feminino que parece acelerar os passos, e o que era vermelho, amarelo, azul-claro e dourado transforma-se em laranja, verde-claro, dourado-escuro, laranja-claro, marrom-claro. Surge uma fumaça no centro da roda que faz o menino tossir duas vezes. Ele levanta a cabeça e vê uma mulher se aproximando da fumaça e insistindo com os mesmos movimentos coloridos e sonoros. 

[...]

Trecho de mais um conto de Contos e micro-contos

domingo, 21 de abril de 2013

Por que recusas amor e permanência?

Porque Hilda Hilst completaria 83 anos hoje:

1. Um poema lindo;
2. O mesmo poema lindo cantado por Maria Bethânia (fica lindo ao extremo?).

Confira:

A minha Casa é guardiã do meu corpo
E protetora de todas as minhas ardências
E transmuta em palavra
Paixão e veemência
E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.
A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
A uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla e argonauta
Por que recusas amor e permanência?

sexta-feira, 19 de abril de 2013

todos dentro do tijolo de cristal

“A tarefa de amolecer diariamente o tijolo, a tarefa de abrir caminho na massa pegajosa que se proclama mundo, esbarrar cada manhã com o paralelepípedo de nome repugnante, com a satisfação canina de que tudo esteja em seu lugar (...). Enfiar a cabeça como um touro apático contra a massa transparente em cujo centro bebemos café com leite e abrimos o jornal para saber o que aconteceu em qualquer dos cantos do tijolo de cristal. (...) Há um andar de cima onde moram pessoas que não percebem seu andar de baixo, e estamos todos dentro do tijolo de cristal”. 

Trecho de Histórias de Cronópios e de Famas, de Julio Cortázar.

domingo, 31 de março de 2013

10 filmes, 10 imagens #1

Certos filmes ficam ainda mais bonitos na imagem única, estática. Selecionei algumas imagens de filmes nem tão bons, nem tão ruins - para mim, ao menos uma qualidade esses filmes carregam, que é justamente a fotografia. Não pensei entrar em méritos maiores, pois a ideia é dividir as fotos que tenho aqui em meus arquivos. Até a próxima.












quarta-feira, 13 de março de 2013

links para compensar ausência

a) Um micro-conto na íntegra publicado no Blog Outros 300:


b) Fragmentos de meu trabalho de conclusão de curso (2011) também no Outros 300:


c) Uma matéria da jornalista Aline Dias, na Revista de Cultura do Diário Oficial do ES, fala sobre a nova geração de escritores do Estado e meu nome é citado, vejam só (na página 03):



Opiniões, descarrego e carícias, tudo é aceito por aqui. Até breve! 
P.S.: o chá de chama virou labareda por pouco tempo.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

sobre nascer no dia do amor

Drummond para o meu dia, o dia de São Valentim e para todos que amam:

Nascer de novo

Nascer: findou o sono das entranhas.
Surge o concreto,
a dor de formas repartidas.
Tão doce era viver
sem alma, no regaço
do cofre maternal, sombrio e cálido.
Agora,
na revelação frontal do dia,
a consciência do limite,
o nervo exposto dos problemas.

Sondamos, inquirimos
sem resposta:
Nada se ajusta, deste lado,
à placidez do outro?
É tudo guerra, dúvida
no exílio?
O incerto e suas lajes
criptográficas?
Viver é torturar-se, consumir-se
à míngua de qualquer razão de vida?

Eis que um segundo nascimento,
não adivinhado, sem anúncio,
resgata o sofrimento do primeiro,
e o tempo se redoura.
Amor, este o seu nome.
Amor, a descoberta
de sentido no absurdo de existir.
O real veste nova realidade,
a linguagem encontra seu motivo
até mesmo nos lances de silêncio.

A explicação rompe das nuvens,
das águas, das mais vagas circunstâncias:
Não sou eu, sou o Outro
que em mim procurava seu destino.
Em outro alguém estou nascendo.
A minha festa,
o meu nascer poreja a cada instante
em cada gesto meu que se reduz
a ser retrato,
espelho,
semelhança
de gesto alheio aberto em rosa.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

nos trilhos franceses

Mais um vídeo da viagem. Desta vez, feito a caminho de Versalhes, uma cidade que fica bem perto de Paris, de tal forma que devo ter feito um percurso de 40 minutos de trem. Quando entrei no trem, percebi uma dupla de músicos tocando acordeão (ou sanfona ou gaita) e pensei que  aquele momento em que o trem percorre as estações, saindo de Paris, valia um vídeo. Assim, de forma super simples, você pode ouvir a música italiana dando tom àquele cenário urbano desconhecido. Uma verdadeira mistura, uma deliciosa viagem. Espero que gostem.





Confira mais um vídeo da viagem aqui. 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

samba-poema III


Não me diz “nunca”, nem “de vez em quando”,
apenas diz.
Eu não sou do tipo que sai sambando,
apenas vou, apenas fiz.
Mas já avisei, deixei anotado,
não vale sumir e voltar bem dotado.

Todo mundo sabe, não preciso gritar:
o vidro pode quebrar, o ferro pode queimar
e o tiro pode matar.

Não adianta, a vida é assim
Tem gente que chora, tem gente que vive,
mas não é o fim.
Avisa lá que sou afinada, mas pode dizer
Não sou a finada, vai ter que descer,
vai ter que me ver, vai ter que crescer, vai ter...

Todo mundo sabe, não preciso gritar:
o vidro pode quebrar, o ferro pode queimar
e o tiro pode matar.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Samba-poema II


O caso não é simples:
lá fora tem muita coisa ruim.
Vivem zombando disso, daquilo, de mim.
Eu devo explicar que a coisa tá feia,
o dinheiro é sujo, a roupa encardida,
minha mulher é bandida, mas
a vida é de baile.
Vamos pagar nossas fianças, pois eu
não sei quando é hora de partir.
Prender-se é perder o direito, viver
sem respeito, esquecer de sorrir.
Por isso meu caminho é carimbado, esperado,
demoro pra prosseguir sem nada.
Vivo virando em qualquer estrada.
Se me perguntam qual é o vício,
o vício não sei explicar.
Não fiz, não digo, não sou, só sei cantar.
Então anda que ninguém espera.
Também, pudera, pra que esperar?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

meus sonhos inteiros


Que dia!
Que adia meus medos
Mas não morre
E da morte os arremedos
Meus sonhos inteiros
São eles
Medonhos e certeiros. 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

#viagem Munique

Munique foi minha grande descoberta. A cidade alemã tem um coração enorme e, em três dias, conheci franceses, ingleses, colombianos, alemães e, claro, brasileiros. Além disso, a cerveja e a culinária dão um toque especial ao local. Desta vez, deixo aqui um vídeo que fiz na rua. Ele mostra um grupo de meninas tocando violoncelos, se a minha ignorância musical permite dizer. Vou publicar mais outros vídeos, sempre neste estilo simples, já que minha câmera era de péssima qualidade, e também porque a ideia é bem simples: ao final de todos eles, tem um toque literário:



quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

sonhos, números, sorrisos

[...] Sonhar demanda tempo, açúcar e espírito. Mas chega uma hora em que tudo se transforma em lágrima, a hora de encontrar todos juntos para dissipar as fantasias. O rapaz precisa esquecer sua invencibilidade, deixar de lado o que pensa sobre imortais. Seus sonhos costumam ter lugares amplos demais, com redes e cadeias embaralhadas e cheias de coisas só dele. Está tudo em Ângelo. Até que chega o retorno, o dia seguinte, quando tudo volta ao normal e os devaneios se multiplicam. Voa-se em qualquer nuvem, sonha-se em qualquer estação. Algumas amizades reaparecem para tomar essa mesma direção e para darem fim a qualquer ruído perturbador. Para Ângelo veio o ambíguo, inexplicável, incompleto, inconstante. Veio à cabeça a estranha arte de realizar eventos inconscientes, em meio ao caos do seu núcleo psíquico. Quando, agora, chegou além e, finalmente, abraçou o sonho com alma e coração, muitos também comemoraram. Realizar um sonho é alcançar uma estrela, encontrar a luz no fim do túnel. É encontrar a verdadeira felicidade ao lado de quem merece estar lá. Se Ângelo sonha, é porque ele é capaz de conquistar um mundo impossível. Ele é feito para isso, para os gigantescos projetos que, se no começo são apenas números, areia e insônia, no final podem ser fotos, concreto e sorrisos. [...]

Trecho de um conto que está em meu livro Contos e microcontos, ainda a ser lançado.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

samba-poema I

Em tempos de carnaval, é bom sambar com a linguagem. O primeiro poema dessa série é invenção antiga, mas ainda vale:


Samba-poema I

Chegou devagar, essa moça, a dançar
pedindo um aperitivo qualquer lá no bar
e na barra da saia rodada, essa mulher
de fiel namorada, na levada, deu pontapé
Desce a ladeira, a danada, colar no pescoço
sorriso de canto, pulseira no pulso, cantada
samba de beira, brinco na orelha, beirada
E na vida ela vai, tanto quanto volta...
E na vida ela vai, tanto quanto volta...
A moça caminha e desfila no passo da esquina,
mascando chiclete de tangerina, sem hora pra chegar
salto alto, meia fina, então é brasileira
a curva de um lado, de outro, para um olhar
Agora, sobe esse morro num único decote
a mesma mulher faz tudo o que pode
retoca o batom, ouve o pandeiro e, se bobear, morde.
E na vida ela vai, tanto quanto volta...
E na vida ela vai, tanto quanto volta...

(autoria minha, com todos os direitos reservados)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

momento único daquela viagem

Entre muitas, uma memória:

Gosto de igrejas seculares. Há muito de histórico dentro delas e, exceto pelas que se tornam um verdadeiro ponto turístico, com barraquinhas de souvenirs dentro, as igrejas transmitem alguma paz, uma tranquilidade da qual eu realmente gosto. Mas eu posso encontrar tranquilidade em vários lugares, por exemplo, em parques. Além da história que esse local guarda, a tradição das pinturas e dos vitrais, os rituais – há também algo de misterioso lá dentro. E a luz baixa de algumas, que deixam as velas mais presentes, as sombras à mostra, as imagens sacras e santas tão enigmáticas... É um lugar que vale a pena visitar não só para conversar consigo mesmo, independente de quaisquer crenças, mas também para relaxar a mente, e respirar fundo. Quando visitei a Notre-Dame de Grenoble pela primeira vez, fui com a intenção de tirar fotos. Depois, voltei outras vezes para pensar na vida, para assistir a uma missa e também para ouvir um grupo de alemãs cantarem em um coral belíssimo. A propósito desse dia, conversei bastante com uma freira que havia conhecido poucos dias antes. Ela vinha de um país africano e participava de algum tipo de missão religiosa: conscientizar os jovens daquela cidade universitária, a fim de que eles pudessem pensar a respeito da importância de frequentar uma igreja. Ela percebeu, sem qualquer sinal de minha parte, que eu estava ali muito mais para aproveitar a minha viagem, e isso não impediu que nós conversássemos por mais de uma hora e ela me apresentasse para todos que chegavam para beijar-lhe a mão. Uma dessas pessoas era um homem, uma espécie de zelador da igreja: um italiano que falava francês e me desafiou várias vezes com o idioma, porque eu estava quase perplexa, e calada, por não saber o que dizer naquelas conversas tão inesperadas. Na verdade, pensava: “Quando eu iria imaginar que conheceria pessoas tão formidáveis e surpreendentes?”. Ensaiei dar uma volta na cidade e retornar mais tarde para o coral. O homem, que me apresentou toda a igreja, contou histórias e experiências, perguntou-me se eu havia conhecido a capela. [...] Achei engraçado: ele se sentia um pouco guardião daquele lugar histórico, quase um vigilante do sossego, mas também um zelador que conservava ou reafirmava os segredos templários. “Você pode ficar um pouco. Daqui a pouco eu volto”, disse. Suspirei. Estava só, acompanhada de milhares de anos de história, e vidas que por lá passaram, quem passou?, quantas pessoas vieram até aqui, sentaram-se nesses bancos, famílias inteiras chegavam até a porta de charretes, e com aquelas indumentárias, por quantos invernos passaram?, quantos casamentos, batismos, missas do galo, talvez? Fotografo um pouco, ando, olho para o teto – os tetos das igrejas são igualmente especiais para mim. É difícil pensar daquela forma, rodeada de vozes e ecos. Eu não precisava dizer nada. O altar, com todos aqueles signos, me deixava arrebatada. No chão, uma grade protegia alguma abertura. Como não considerar tudo isso tão emblemático... O guardião voltou e perguntou: “E então? O que achou?”. Eu tentei explicar para ele o que sentia, mas, claro, sem sucesso. Ele disse que eu poderia ficar o quanto quisesse. “Bom, se é assim, quero ficar mais um pouco”. E fiquei, por volta de quarenta minutos ali, sentada comigo mesma.







Fotos tiradas por mim. Memórias guardadas com imagens e letras.

domingo, 6 de janeiro de 2013

mergulho nas ondas da manhã


Acordar com o calor da manhã, tal como Clarice Lispector fazia, para sentir o amanhecer de pertinho, e ouvir as ondas quebrarem umas nas outras, nervosas como as minhas mãos: só assim para entender melhor o sol. Vieram planos, mil deles, vontades e verdades até. Tão difícil ser ébrio que não senti nada mais além. Isso já era muito e manteve-se com qualidade para o fim do dia. Como fim, se o dia só está começando? Não. Tudo acaba quando o papel começa a ser preenchido. Tudo é fim. O papel nunca está branco, mas finge-se que sim. Impossível fingir tão bem, o papel está antes escrito de memórias, e preciso aprender com o sol para entrar nos seus limites. Como saber dar vida ao texto sem mergulhar nessas mãos nervosas? Como dizer que o dia é o mesmo depois de acordar uma manhã de versos e de frases? Como aceitar que a vida continua, o dia está lindo lá fora e hoje é domingo? Acabou. Não posso compactuar com tamanha insensibilidade. Deixe o texto, deixe que ele respire esse ar matutino, mas não me venha... o começo também é o fim e, caso isso se inverta, preciso estar acordada para entender melhor a lua.