quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

sobre nascer no dia do amor

Drummond para o meu dia, o dia de São Valentim e para todos que amam:

Nascer de novo

Nascer: findou o sono das entranhas.
Surge o concreto,
a dor de formas repartidas.
Tão doce era viver
sem alma, no regaço
do cofre maternal, sombrio e cálido.
Agora,
na revelação frontal do dia,
a consciência do limite,
o nervo exposto dos problemas.

Sondamos, inquirimos
sem resposta:
Nada se ajusta, deste lado,
à placidez do outro?
É tudo guerra, dúvida
no exílio?
O incerto e suas lajes
criptográficas?
Viver é torturar-se, consumir-se
à míngua de qualquer razão de vida?

Eis que um segundo nascimento,
não adivinhado, sem anúncio,
resgata o sofrimento do primeiro,
e o tempo se redoura.
Amor, este o seu nome.
Amor, a descoberta
de sentido no absurdo de existir.
O real veste nova realidade,
a linguagem encontra seu motivo
até mesmo nos lances de silêncio.

A explicação rompe das nuvens,
das águas, das mais vagas circunstâncias:
Não sou eu, sou o Outro
que em mim procurava seu destino.
Em outro alguém estou nascendo.
A minha festa,
o meu nascer poreja a cada instante
em cada gesto meu que se reduz
a ser retrato,
espelho,
semelhança
de gesto alheio aberto em rosa.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

nos trilhos franceses

Mais um vídeo da viagem. Desta vez, feito a caminho de Versalhes, uma cidade que fica bem perto de Paris, de tal forma que devo ter feito um percurso de 40 minutos de trem. Quando entrei no trem, percebi uma dupla de músicos tocando acordeão (ou sanfona ou gaita) e pensei que  aquele momento em que o trem percorre as estações, saindo de Paris, valia um vídeo. Assim, de forma super simples, você pode ouvir a música italiana dando tom àquele cenário urbano desconhecido. Uma verdadeira mistura, uma deliciosa viagem. Espero que gostem.





Confira mais um vídeo da viagem aqui. 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

samba-poema III


Não me diz “nunca”, nem “de vez em quando”,
apenas diz.
Eu não sou do tipo que sai sambando,
apenas vou, apenas fiz.
Mas já avisei, deixei anotado,
não vale sumir e voltar bem dotado.

Todo mundo sabe, não preciso gritar:
o vidro pode quebrar, o ferro pode queimar
e o tiro pode matar.

Não adianta, a vida é assim
Tem gente que chora, tem gente que vive,
mas não é o fim.
Avisa lá que sou afinada, mas pode dizer
Não sou a finada, vai ter que descer,
vai ter que me ver, vai ter que crescer, vai ter...

Todo mundo sabe, não preciso gritar:
o vidro pode quebrar, o ferro pode queimar
e o tiro pode matar.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Samba-poema II


O caso não é simples:
lá fora tem muita coisa ruim.
Vivem zombando disso, daquilo, de mim.
Eu devo explicar que a coisa tá feia,
o dinheiro é sujo, a roupa encardida,
minha mulher é bandida, mas
a vida é de baile.
Vamos pagar nossas fianças, pois eu
não sei quando é hora de partir.
Prender-se é perder o direito, viver
sem respeito, esquecer de sorrir.
Por isso meu caminho é carimbado, esperado,
demoro pra prosseguir sem nada.
Vivo virando em qualquer estrada.
Se me perguntam qual é o vício,
o vício não sei explicar.
Não fiz, não digo, não sou, só sei cantar.
Então anda que ninguém espera.
Também, pudera, pra que esperar?