Um poema que questiona a tradição da pergunta "O que você vai ser quando crescer?" em plena prova do Enem 2012 - um exame que simboliza, mais do que nunca, um passo para o futuro, um passo para finalmente o Ser ser, um ritual doloroso liderado por essa responsabilidade implícita e explícita de decisão lúcida do futuro. Abri um sorriso quando me dei conta do ocorrido, pois Drummond apresenta-nos um sujeito poético que decide ir contra a corrente, um eu que não entende o porquê disso, dessa necessidade de ser quando se cresce. Mas já não sou? Não sou ainda por falta de títulos, diplomas, condecorações, merecimentos? O poema responde: Não vou ser. Uma vez, li em algum lugar um diálogo com a máxima de Hamlet: o importante não é ser ou não ser, mas sim, ser e não ser. Eis as questões:
Verbo Ser
Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.
[Carlos Drummond de Andrade]
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