domingo, 2 de dezembro de 2012

Mães


Não haveria mundo se as mães não existissem. Embora pareça óbvio, não o é. Os ventres mais quentes e aconchegantes não garantem um piso firme na vida após os nove meses. O alisar da barriga e a cautela exagerada não são suficientes ao coração recém-nascido. O que com o cordão umbilical se nutre talvez seja pouco para uma jornada de amamentações e colheres de asas. O ofício materno ultrapassa a dor do parto e o sangue escorrido pelas veias, e nem todas as mães mereciam essa denominação, ou esse elogio disfarçado de grito “mãe!”, ou esse apelo por um cuidado que sempre carecemos e só essa figura – a mãe – é capaz de ter, ou essa função absolutamente nobre, ou esse carinho que veste uma pessoa e, simplesmente, ela deixa de ser qualquer coisa para ser tudo: uma mãe. Um teste positivo, alguns ultrassons, o deslumbramento no primeiro par de sapatinhos e, pronto, sou mãe? Uma violação para com as verdadeiras, as legítimas, as que embalam os seres mais importantes do mundo. Pois um filho significa um pedaço da vida e a vida em pedaços só pode ser vista assim: aos olhos de alguém superior. Uma mãe. As mães são distintas porque carregam consigo remédios poderosos e jamais identificados pela ciência. Elas sabem que não é o leite que brota dos seios que as deixam fortes. São aquelas luzes nos dedos das mãos, que não são apenas duas. Aquelas luzes que acalentam quando vem a febre, o choro, a frustração, os conflitos, o mundo. Elas existem para tocar o mundo com as próprias mãos, as mães. Um papel inesgotável, a ponto de provocar discussões acerca da sua imortalidade. É mistura, repetição acalorada “mamãe”, é o nome açucarado, são as luzes que nunca se apagam, é mãe desmedida e insone. Híbrida. Mães deram origem ao mar, aos livros, às estrelas, ao sol e ao infinito. Assim surgiu o amor em excesso, um exagero sem fim que, graças a elas, mantém o mundo. Um mundo mantido por mãos maternas, cujo exercício é somente assegurar que as vidas das proles estejam cativadas. Assim, parafraseio Guimarães: mão, mães, é tudo uma questão de afeiçães

(Texto inspirado no dia de hoje, dia da minha mãe)

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