Achei que fecharia 2013 já com o título de mestre em Letras. Era esse o plano. Mas muita água passa debaixo da ponte, como dizem. Nem foi tão ruim. Minhas leituras se estenderam, as descobertas também. Impossível não perceber em mim certo amadurecimento, acadêmico e pessoal. Hoje, com a dissertação terminada, à espera de fevereiro, posso dizer que a pesquisa me fez descobrir ainda mais a potencialidade de um escritor quase desconhecido. Fernando Tatagiba foi um mestre da literatura nacional. Eu diria, um pensador. Teve a capacidade de escrever em linhas múltiplas com a finalidade de alcançar um discurso do marginalizado, da escória, dos calados e esquecidos. Tamanha sensibilidade me arrebatou diversas vezes, a dissertação parecia entrar no vácuo, e de lá saía milagrosamente. São cem páginas de gotículas de suor pingadas dia-a-dia, mas que, ao final deste ano, dão um orgulho danado. 2014, então, já começa bem: com uma defesa de dissertação. Voilà!
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Por que 2013 fica? #2
Algumas quartas-feiras deste ano foram preenchidas com viagens ao Rio de Janeiro, minha cidade preferida após Vitória. O Rio é contagiante, tem beleza e vida debaixo de sol e de chuva. Os cariocas se vangloriam e, sempre que desço por lá, pareço aplaudir com os olhos a cidade maravilhosa que eles têm. Minhas aulas na UERJ, que começavam por volta das duas da tarde, passaram a ser apenas um detalhe de uma simples quarta-feira. Isso porque foram muitas as vezes que chegava à cidade pela manhã e caminhava todo o centro, sentava num café com livros em volta, ou ia a cantos os quais ainda não conhecia, como Ipanema e Copacabana. Como não sou amante de praia, isso jamais foi prioridade. Eram, sim, os cafés, os livros, os centros culturais e os bares. Negar uma água de coco em Ipanema, uma cerveja em Copa, quem há de? Quase sempre, voltava no mesmo dia para casa, curtindo a ponte aérea sem dó. Os voos da volta eram sempre tão intensos, a bolsa e o corpo mais pesados, porque as aulas me enriqueciam a mente e a cidade amansava o coração. Os voos de quarta ficam, com certeza, junto com São Paulo. Eis a terceira melhor cidade do mundo, a qual conheci este ano. Como pude ficar tanto tempo sem desbravá-la? São Paulo é um universo, é imensa, enérgica, pulsante. A explosão cultural paulista ganhou minha simpatia sem muito esforço, de tal modo que, ainda lá estando, já fazia planos para voltar. 2013 fica, a lembrança. E puxa 2014 pela gola, os planos.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
Por que 2013 fica? #1
Do inevitável saldo de final de
ano, digo pelo menos três coisas que tornaram meu 2013 perfeito. Eu duvidei
mesmo que o ano seria melhor do que o anterior, quando eu fiz minha primeira
viagem à Europa e, sozinha, conheci e vivi tantas coisas inesquecíveis. Mas
este foi um ano de acontecimentos inesperados, como me tornar diretora de uma
escola de acompanhamento escolar. Hoje, agradeço por serem tão poucos alunos,
na faixa de 30, dos 9 aos 16 anos. Nenhum conhecimento supera tão rapidamente
aquela rotina: descobrir as dificuldades particulares, levar ensinos
alternativos, conversar com professores, pensar atividades, apoiar,
compreender, mudar, brigar, ajudar, chorar, entender, amar. Foram seis meses
tendo sonhos malucos, ideias mirabolantes, para que cada aluno conseguisse se
encontrar. Conseguisse perceber que ser diferente numa sala com 40 alunos é
normal. Que não aprender tudo o tempo todo também é. Que nessa desordem de
informações, imagens, opiniões, flashes,
explosões e máquinas, estamos todos confusos. Todos confusos querendo nos
encontrar, querendo encontrar razões em meio a tanta irracionalidade. Uma
instituição como a escola não se veria livre desse fluxo enlouquecedor, por
isso as escolas alternativas, onde o aluno se reconhece no meio da multidão. E
eu, como educadora, me reconheço ainda mais, fazendo parte desses processos,
dessa constante vontade de equilíbrio.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Contos e microcontos na internet
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
Com chuva e com afeto
Que férias e chuva não fazem uma
boa combinação, disso sei há muito tempo, desde que precisei da rua para me
divertir, estando nela ou usando-a para seguir viagem. Antes de viajar para
Conceição da Barra ou para Itaipava – a escolha era sempre um ou outro canto
praiano – passava alguns dias batalhando uma diversão com os colegas da rua,
que era metade asfalto, metade terra e paralelepípedo. E, se os colegas eram da
rua, era porque ali tudo se transformava em campo de futebol (ou de bolinha de
gude), em sessão de cinema a céu aberto ou em show de música com nossos
próprios talentos. Ou, ainda, em campeonatos de pipa.
Mas a natureza de vez em quando
pede passagem, em sinal de apelo ou alerta, para não ser desfeita a sua graça.
E, por isso, enxurradas são capazes de lavar até o mais imundo canto,
esborrando água e mais água, em pleno período festeiro de férias e final de
ano. Um aviso? O lado de fora encharcado, a rua era então improvisada do lado
de dentro. Tudo era motivo para que o tempo não se escorresse como a chuva na
janela.
Numa dessas, veio-me a ideia de
soltar pipa dentro de casa. Porque se quer, então se faça. Uma pipa adaptada, é
verdade, mas era a minha pipa uma sacola de plástico manipulada por um
barbante. E o vento? Escutava-o quase derrubando as árvores com o auxílio da
chuva e isso já era suficiente. Assim, tudo estava pronto: minha pipa era
amparada pelo varal de roupas da mãe e eu me sentava no chão de piso vermelho
da área de serviço. Ouvia a chuva formar cascata no telhado do quintal, o vento
soprar a ponto de respingar gotas no rosto, como se estivesse lá fora, debaixo
daquele filete engrossado de chuva.
Se nunca tomei banho de chuva?
Vários, a perder o couro. Mas a sinfonia das águas escorrendo nas calçadas e
nos telhados tem de ser ouvida, por vezes, na calma de chão, imaginando
gigantes pisando na terra molhada, provocando estrondos no céu. Aproveitando
que no tempo da infância não se reconhece que famílias são afetadas por tamanho
desabamento chuvoso.
Pingo a pingo rasgaria a seda da pipa. Mas não a minha, que era de plástico. E, mesmo assim, ela voava longe, ainda que dividindo o espaço com roupas por secar. Naquele voo, eu fechava os olhos para ouvir ainda mais a pipa voando no céu ora cinzento, ora amarelado. O teto que era céu, o varal que era vento, o barbante que era rabiola, a sacola que era papagaio. A chuva que era inspiração.
Pingo a pingo rasgaria a seda da pipa. Mas não a minha, que era de plástico. E, mesmo assim, ela voava longe, ainda que dividindo o espaço com roupas por secar. Naquele voo, eu fechava os olhos para ouvir ainda mais a pipa voando no céu ora cinzento, ora amarelado. O teto que era céu, o varal que era vento, o barbante que era rabiola, a sacola que era papagaio. A chuva que era inspiração.
Assinar:
Postagens (Atom)